Atividades
Preocupação em Davos-2016
Na Europa e em Portugal, assistimos com a crise 2008/2009 à mobilidade de empresas de matriz industrial para países/mercados em outras áreas do globo, Asia em particular, pela procura de rendabilidades mais ambiciosas através do custo, mais baixo, da mão-de-obra.
Manter a rendabilidade destas empresas industriais está em causa, porque já não é possível competir só por custo baixo dos RH. Novos fatores são cada vez mais importantes na competitividade empresarial, como o Conhecimento, a Inovação e Recursos Humanos Qualificados RHQ. Por tal, estamos a assistir ao retorno à Europa de muitas dessas indústrias.
O conhecimento a par dos RHQ passou a ser o elemento mais valorizador e destacável da importância estratégica da Industria para os Países mais desenvolvidos, com ambição em crescimento.
A sua valorização identifica-se por estes fatores que suportam cada vez mais uma nova Industria, mais competitiva, que transforma conhecimento em mais conhecimento disponibilizando a jusante, aos serviços, novos conteúdos inovadores para os mercados.
Toda a Europa com exceção para a Alemanha, norte de Itália, Suíça, e Áustria sofreu o efeito devastador de políticas erradas, que incentivaram maioritariamente uma Europa dos serviços e do consumo, deixando abandonada ao seu próprio destino, a Industria, com os políticos a desculparem-se da sua falta de visão em ato semelhante ao de Pilatos.
A economia nacional está dramaticamente desindustrializada, como disse algumas vezes Belmiro de Azevedo, assim como a maioria dos países europeus.
Hoje sobressai na economia a importância estratégica da Industria, tanto em Portugal como na Europa. Basta fazer uma viagem à Economia real e ver cada vez mais, os fluxos de conhecimento, criatividade, inovação, cadeia de valor de transferência IN e OUT e do conhecimento entre Universidades e empresas, a exigência RHQ e a formação cada vez maior dos negócios globais que dão empresas globais.
Na Industria de hoje até um desvalorizado operário de limpeza de piso, do passado, tem de dar lugar a um RHQ com especialização e com funções mais alargadas com base em mais conhecimento, com capacidade de auto-gerir informação no sistema de gestão. Aqui não há espaço para discutir o valor do salário mínimo porque está em muito, ultrapassado.
Portugal e a Europa tem competências para implementar e apoiar uma Industria moderna, criadora de mais emprego para as novas gerações, devendo ocupar uma posição de farol para com os emergentes e jamais ter uma indústria em perda por transferência para os emergentes. Aqui cabe a análise ao porquê?
É pela indústria que se cria emprego mais durável e gerador de novas competências em pirâmide equilibrada, enquanto os serviços criam mais emprego concentrado e com menos sustentabilidade. Industria e serviços são hoje dois lados da mesma moeda, como alguém disse.
O diferencial sobre a produtividade entre Industria e Serviços é muito elevado, do qual se destaca, maior potencial em emprego mais qualificado e competências diversificadas desafiadoras para novos empreendedores.
Por outro lado, uma Industria robusta origina coesão e reforço de todas as fileiras industriais reforçando os clusters existentes e o aparecimento de novos clusters gerando-se uma maior atratividade ao investimento pela oferta reforçada da cadeira de valor, hoje tão importante para todas as industrias e serviços.
Os crescimentos dos PIB(s) tem na Industria o seu maior apoio para que as economias possam sair dos apáticos valores dos últimos 10 anos.
O emergir da Industria 4.0 tem a mais alta importância nas economias dos países economicamente desenvolvidos, de tal forma que no FORUM DAVOS 2016, foi um dos temas principais porque é efetivamente revolucionária e disruptiva. Aqui a questão do emprego merece uma análise cuidada em contexto alargado, porque é fácil falar em destruição de emprego, o que não é ainda uma certeza.
Portugal em particular precisa investimento industrial estruturante.
Temos hoje forte capacidade de atração pelo poder e dimensão existente em alguns clusters como o automóvel, o aeronáutico e outros e que traga consigo, conhecimento e uma componente exportadora.
O projeto Auto-Europa, Volkswagen, é o nosso maior exemplo, seguem-se outros mais recentes como a Embraer.
Industria, um desafio de hoje, tanto para Portugal como para a Europa, com obrigação estratégica de ocupar um maior espaço num futuro que já começou, mas não nos podemos esquecer que Industria moderna faz-se com conhecimento e capital intensivo que deve premiar quem investe e cria riqueza, mas nunca ser sacrificado exclusivamente e obstinadamente para pagar impostos.
José Manuel Fernandes
Chairman Frezite Group
Artigo publicado em caderno de Economia do Semanário Expresso de 5 de Março.